| Auditório  quase cheio, mas Silmara consegue descobrir dois lugares bem na frente. Queria  aproveitar cada palavra do bamba no assunto pelo qual se interessava tanto.
 -  Ah, não! Vamos nos sentar aqui mesmo. Perto da porta dá para sair  mais rápido.
 - Sossega, criatura! Nem bem chegamos e você já  está pensando na hora de ir embora!
 
 Aquela era Zélia, muito  afobada, diziam. Se fosse visitar alguém, ou servisse de acompanhante,  por mais que insistissem, ela permaneceria em pé, ainda que longo tempo.
 
 -  Estou bem assim, só passei mesmo para dar um oi.
 
 Algumas pessoas  estão sempre passando, como se outra coisa, outra tarefa, outra idéia,  outra pessoa estivessem esperando por ela. Diferente de quem faz rápido,  mas se coloca no que está fazendo, elas fazem tudo com pressa para acabar  logo.
 
 
 | "O  planejamento é um fator importante para o sucesso de nossas realizações,  mas se nos torna ansiosos pelo passo seguinte, alguma coisa está errada" | Temos  alguns exemplos: aquele que olha o relógio o tempo todo, mesmo que não  tenha outro compromisso marcado; aquele que pegando um fio de conversa nos faz  uma pergunta só para se dizer presente, porém não ouve a  resposta, pois, antes que terminemos, ele já enveredou por outro assunto;  ou o aluno que entra na sala perguntando a que horas o professor vai fazer a chamada,  para que possa sair; e até aquele estudante que primeiro enumera as respostas  e depois percebe que não deixou espaço suficiente para satisfazer  a pergunta anterior. | 
 Todos querem  ver o final, livrar-se da situação, inclusive aquele ator que acelera  a cena - talvez por conta do nervosismo -, deixando escapar ao público  seu desconforto.
 Fazer uma coisa pensando na próxima pode não  significar apenas que o sujeito planejou o seu dia. O planejamento é um  fator importante para o sucesso de nossas realizações, mas se nos  torna ansiosos pelo passo seguinte, alguma coisa está errada. Ao contrário,  ele deve servir à nossa tranqüilidade, para que estejamos, de fato,  em cada momento vivido, sem nos preocuparmos demasiadamente com o que vem pela  frente.
 
 Uma coisa é planejar e desenvolver o planejado, outra é  atropelar uma etapa em função da posterior. Planeja-se para que  se possa cumprir da melhor forma cada fase e não para considerar terminado  um projeto.
 
 Estar presente em cada atividade, extrair o máximo do  que ela pode nos oferecer em experiência sensória, emocional, racional,  permite, além do conhecimento daquilo que se está fazendo e de nós  mesmos, um grande prazer que nos ativa e mobiliza. Podemos enxergar oportunidades,  pois nos tornamos donos do processo e, portanto, mais capazes de tomar decisões  que o beneficiem e de encontrar soluções para os imprevistos. Isso  vale tanto para os grandes projetos, a longo prazo, como para as minúcias  do cotidiano.
 
 Exercitar-se em se colocar o mais inteiro possível  nas pequenas coisas, em dar a elas o tempo devido, é uma maneira de lidar  com a ansiedade. Podemos começar prestando atenção aos nossos  gestos, movimentos e à seqüência e velocidade dos nossos pensamentos,  desde a forma como levantamos da cama, escovamos os dentes, tomamos um banho,  usamos a toalha, trocamos de roupa, até as maiores tarefas que envolvem  nossa profissão e nossos relacionamentos.
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