Pra começar o dia já com uma boa reflexão...
OS DOIS PEREGRINOS
QUE BUSCAVAM A LUZ
Um dia o sino do portão do mosteiro tocou com muita insistência. O mestre porteiro, correu, arrastando suas chinelas largas e ao abrir o grande portão deu de cara com dois peregrinos que buscavam as luzes da irmandade que ali se abrigava.
“Somos os peregrinos Pedro e Leonardo” – disseram – “Ouvimos falar das maravilhas que são prometidas aos membros de vossa gloriosa Ordem e queríamos também poder fazer parte dela para desfrutar da bem-aventurança...”
“Sim, sim,... Passem para dentro... Nossa irmandade é uma Ordem Aberta, recebe todo aquele que pede guarida... Entrem.” “Mas como?” Perguntou Leonardo, que era mais velho e portanto mais desconfiado. “Não passaremos por testes de aptidão? Não seremos confrontados com um conselho seletivo? Não nos farão perguntas sobre nossos antecedentes?...”
“Já lhes disse que somos uma Ordem Aberta. Aqui não há testes, provas ou verificações e as perguntas pessoais virão depois, para que melhor possamos direcionar suas práticas e treinamentos. Entrem logo, são bem vindos aqui.”
“Muito bom isto” comentaram entre si os dois aspirantes à luz.
Foi assim que, no primeiro dia, foram recebidos, conheceram parte do mosteiro, comeram da mesa dos seus novos irmãos, participaram dos rituais regulares da Ordem, dormiram em camas limpas e tiveram acesso ao conhecimento que estava sendo exposto para toda a coletividade.
“Muito bom isto” comentaram entre si os dois aspirantes à luz.
No segundo dia perceberam que a roupa que tinham no corpo estava suja. Procuraram o irmão encarregado e perguntaram:
“Senhor, por favor, para quem devemos dar a nossa roupa suja para que seja lavada...”
“Ah! Meus irmãos... Aqui não temos empregados. Se quiserem roupas limpas, amanhã, antes do nascer do Sol, sigam os irmãos mais experientes que eles levarão vocês até um recanto do rio onde poderão lavar as suas roupas.” - ele respondeu....
“Muito ruim isto” - comentaram em voz alta os dois aspirantes à luz - “pois não sabemos lavar roupa... Alias nunca o fizemos em toda a nossa vida... Sempre alguém as lavou...” “Não se preocupem... os irmãos mais experientes ensinarão vocês... verão como é fácil... qualquer um pode lavar suas próprias roupas...”
“Mas, e as maravilhas da bem-aventurança?...” - perguntaram os peregrinos.
“Tudo a seu tempo... tudo a seu tempo...” - respondeu paciente o mestre encarregado.
“Muito ruim isto” comentaram entre si os dois aspirantes à luz.
“Mas senhor, a esta hora está muito frio, a água certamente estará gelada...” – argumentaram assustados - “e ainda mais, poderemos perder a hora do café, ficaremos com fome... e também, é bem nesta hora da madrugada que temos os nossos melhores sonhos... e a água fria faz doer as nossas juntas... e assim a vida fica difícil... Será que não poderíamos ir mais tarde...”
“Todas as determinações e obrigações da Ordem são justas e foram analisadas anteriormente, nada aqui é feito por dogma, teimosia ou por simples repetição de tradições esquecidas no tempo... Tudo tem uma razão... Por exemplo, quanto ao horário de lavagem da roupa. Ela deve ser feita bem cedo, antes da fábrica que fica bem acima do rio começar a jogar detritos na água. Depois a sujeira seria tanta que seria impossível... Vocês são novos, com o tempo entenderão as coisas...”
Foi assim que, a contragosto, começaram a levantar cedo e seguir os irmãos de Ordem para lavar as roupas. Porém, enquanto Pedro reclamava do frio, da fome, do trabalho, falando de promessas não cumpridas, de irmãos exploradores e de trabalhos inúteis, Leonardo começou a ver a beleza das manhãs, conheceu uma espécie de borboleta que só voava àquela hora matinal, percebeu que aquela atividade lhe dava mais disposição, ficava mais alerta durante o dia, no caminho começou a ouvir a conversa dos mais antigos e a aprender um monte de coisas e o que é mais importante, sua auto imagem cresceu, afinal era agora independente para poder ter suas roupas limpas...
“Muito ruim isto” dizia Pedro, entre dentes, para si mesmo...
“Muito bom isto” falava alto Leonardo...
O tempo passou... Pedro ficava cada vez mais desiludido. Ninguém fazia nada por ele... Queria um mestre lindo, cheio de espiritualidade e candura que, com um gesto maternal, o tomasse suavemente no colo e o levasse direto ao estado de bem-aventurança, falando sempre palavras doces e dando comandos celestiais... Ao invés disto era um tal de caminhe, faça, procure, estude, treine, vá buscar você mesmo... Sentia-se irritado com os instrutores... decepcionado com o serviço da irmandade...
Leonardo, ao contrário, entrou no espírito da turma. Logicamente, muitas vezes, questionava certas práticas, ficava chateado com algumas tarefas que tinha de cumprir e diante de eventuais obstáculos tinha vontade de desistir e voltar... Mas perseverou, trabalhou, procurou entrar em sintonia com o sistema proposto pela irmandade, aproveitou os ensinamentos adaptando-os às suas necessidades... Viu que agindo assim, quando precisava de ajuda ela chegava com mais facilidade, percebeu que, em sintonia com o grupo, não precisava fazer perguntas, as respostas vinham até ele no momento preciso, como mágica.
Pedro, de cara feia e decepcionado, numa noite escura, partiu sem pedir licença, nem despedir-se do amigo Leonardo. Com o coração cheio de amargura, passou pelo irmão porteiro, sem ao menos olhar em seus olhos e foi embora comentando: “Muito ruim isto, sou o mesmo que entrei, aqui não existe milagre...”
Nunca mais ninguém teve notícias dele... sumiu no mundo, tragado pelo cotidiano e pela vida comum...
Leonardo, desde que entrou, procurou penetrar e trazer para a sua vida diária, os ensinamentos mais profundos da irmandade, elevando-se dia a dia, nos graus internos da Ordem... Em breve tornou-se um mestre... e depois de um tempo, com muita perseverança, atingiu a tão sonhada bem-aventurança espiritual que tanto procurava... Seu nome é ainda comentado como um exemplo a ser seguido por todo peregrino da luz...
Uma noite, já com uma idade avançada, ao deitar-se em seu leito limpo e perfumado, olhando as estrelas que brilhavam no céu, pela janela de seu quarto no mosteiro, recordou-se de toda a sua vida e comentou: “Muito bom isto... ao entrar para esta irmandade tornei-me um outro homem... Aqui não existe milagre, aqui existe trabalho consciente e clareza de vontade...”
Colaboração de: Maria Thereza Amaral
Núcleo de Estudos e Terapias El Morya Luz da Consciência
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