CARTA AO BUDA
- Por Wagner Borges -
Buda, meu amigo!
Há 2500 anos que você observa pacientemente esse jogo de viver dos homens da Terra.
Sua compaixão é infinita e seu trabalho sutil não é percebido pela agitação do mundo.
Você é só amor! Contudo, não consigo percebê-lo nos rituais religiosos e nos homens vestidos com roupas alaranjadas que dizem falar em seu nome.
Sabe onde eu acho que você está? No coração das pessoas aflitas que estão submetidos à roda de samsara* e aos tormentos de Maya**.
Estão adorando-o em um paraíso budista, mas acho que você está bem no meio das trevas do mundo, operando sutilmente a favor dos desvalidos de todos os lugares e religiões.
Há muitos caras entoando mantras verbalmente e evocando-o em meio à bruma dos incensos. Mas, você é só silêncio e clareza.
Cara, você é um oceano de compaixão!
Por aqui, nessa zona urbana, têm caras despejando balas dentro da firma, no cinema e na lanchonete. Ah, também têm milhões de pessoas passando fome e um monte de guerras acontecendo em várias regiões. Fora um monte de religiosos gritando nos templos e nas ruas que a religião deles é melhor do que a dos outros.
Sabe, eu poderia estar aqui revoltado e dizendo que esse mundo não presta e que a humanidade não tem salvação. Também poderia estar aqui me achando um escolhido espiritual e esperando algum poder superior ou extraterrestre resgatar-me para longe dessa zona toda. Poderia estar levando minha covardia e o meu imenso ego para outro planeta. Porém, sozinho aqui no meio da madrugada, só consigo lembrar-me de você e de sua serenidade. Sinto sua compaixão envolvendo a alma do mundo.
Os homens gritam isso ou aquilo, cada um com suas ilusões e seus egos entupidos de arrogância e egoísmo.
Todos acham que estão absolutamente certos, mesmo navegando pelos mares da relatividade.
No entanto, você trabalha quieto, meu amigo. Silenciosa serenidade e imenso amor em resposta à dor do mundo.
Eu poderia reclamar disso ou daquilo, mas, aí lembro-me de você e meu coração fica cheio de compaixão. Ele entrega-se totalmente a você e sinto-me desarmado de qualquer pensamento medíocre.
Cara, escrevendo essas linhas e ligado em sua sintonia invisível, percebo minha aura toda dourada e uma onda de luz pacífica aqui no meu ambiente.
Olho pela janela da sala e vejo vários prédios. Em todos eles, está essa luz pacífica.
Por que será que os homens não percebem essa luz silenciosa cheia de bálsamos invisíveis?
À primeira vista, parece que eles padecem de uma profunda cegueira consciencial. Mas, acho que é porque o coração deles está fechado. É por causa disso que suas mentes estão sempre cheias de confusão.
Você os conhece bem melhor do que eu. Acompanha a trajetória dessa humanidade há muito tempo, não é mesmo? E mesmo assim, ainda insiste nessas ondas de compaixão a favor deles.
Meu amigo, nasci e cresci no Rio. Hoje, moro em São Paulo. Ou seja, sempre vivi em grandes centros urbanos e em meio ao caos e violência das cidades.
Muitos de meus amigos tombaram sob a ação de drogas e outros foram atropelados pela violência. E além disso, também vi muitos companheiros de ideais espiritualistas serem apanhados nas redes da arrogância. Outros, revoltaram-se contra a própria Espiritualidade e entregaram-se covardemente ao vazio consciencial de só comer, beber, dormir e copular até morrer, sem pensar em qualquer coisa a mais do que sua vida egoísta. Outros, ainda, passaram para o lado das trevas conscienciais e trabalham contra a própria humanidade.
Eu poderia estar revoltado e chorando as perdas de pessoas queridas. Mas, sei que elas não morrem nunca! Daí, lembro-me de você e meus olhos ficam dourados. O coração entrega-se incondicionalmente e lágrimas douradas rolam pelo meu rosto.
Cara, são lágrimas de compaixão, não de revolta ou de dor. Elas são filhas do seu silêncio e não estão carregadas de emocionalismo barato. Elas estão cheias de amor.
Aqui e agora, sou médium desse seu silêncio amoroso e sinto que essas lágrimas de luz lavam o mundo.
Certa vez, um amparador extrafísico disse-me que o silêncio canta e encanta. Agora entendo isso perfeitamente. Não era do silêncio dessa dimensão que ele falava. Era sobre o silêncio da serenidade que ama sem alarde, sem dramas, sem chantagens, sem reconhecimento, sem patologias psíquicas arraigadas e sem medo.
Meu amigo, seu silêncio encantou meu coração. Sua canção pacífica possuiu-me por completo. Meu coração é seu!
Sei que essas linhas escritas são médiuns e transmitirão mundo afora seu abraço silencioso.
Meu amigo, você é pura compaixão, nem oriental ou ocidental, apenas compaixão incondicional.
Sua simplicidade nada tem a ver com o formalismo e a política das doutrinas fundadas em seu nome. Seu templo é o mundo e tudo o que está vivo é seu irmão.
Sua ação é sem ego e que motivo o seu amor incondicional precisaria para amar?
Olhe, não sei se sou o cara mais adequado para falar de você. Não sigo nenhuma religião estabelecida e não gosto de limitar meu raciocínio a nenhuma linha em particular, embora procure aprender o melhor de cada uma livremente.
Acho Jesus, Krishna e você um arraso!
Como não faço nenhum campeonato de mestres para ver quem é o melhor e nem fico gritando a favor de doutrina alguma, reservo-me o direito de achar que vocês três são maravilhosos.
Estou escrevendo essa carta agora, mas sei que você já a tinha lido bem antes, no lótus do meu coração espiritual.
Bilhões de seres humanos sofrendo dores atrozes, do corpo e da alma, e uma onda silenciosa invadindo a tudo...
Bilhões de seres nascendo, vivendo, morrendo, vivendo, renascendo, trancendendo e vivendo... e uma profunda compaixão trabalhando nos bastidores invisíveis...
Confusão e violência grassando no mundo... e lágrimas de luz lavando bilhões de corações sutilmente...
Tiros, bombas, traições, aflições, dores... e um oceano de serenidade banhando corações trancados.
Cara, as pessoas não acreditarão que eu escrevi essa carta para você e que foi o seu abraço silencioso que me fez escrevê-la. Elas estarão preocupadas se o texto é budista, espiritualista, universalista ou algum outro rótulo que elas arranjem para classificar a espiritualidade alheia. Elas ficarão questionando se essas linhas foram escritas por inspiração, canalização ou por intermédio de algum mecanismo anímico ou mediúnico. Quantas perceberão a mensagem de amor incondicional inserida nessas linhas? Quantas perceberão que o amor não tem rótulo e nem doutrina? Quantas sentirão seu abraço invisível? Quantas perceberão o SERENÃO que você é? Quantas delas perceberão você, Jesus, Krishna e outros luminares abraçando o mundo em silêncio operante?
Durante esses escritos chamei-o de cara e de meu amigo. Talvez algum budista mais ortodoxo fique bravo comigo por isso. Mas, você é o Buda, o Iluminado. E abraçou-me como irmão e amigo. Não notei nenhum ego nisso, só simplicidade e fraternismo consciente. Como eu poderia tratá-lo sem intimidade depois que você possuiu meu coração e encheu meus olhos de lágrimas douradas de fraternidade?
Ao final desses escritos, só posso dizer-lhe com o coração alegre:
MUITO OBRIGADO, QUERIDO!
(Texto extraído do livro “Falando de Espiritualidade” – Wagner Borges – Editora Pensamento – 2002).
- Notas:
* Roda de Samsara - do sânscrito - roda reencarnatória compulsória.
** Maya - do sânscrito - ilusão.
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