Todos os dias, ao despertar, olhava aquela imagem que não era minha.
Desejava ser quem sou e sei quem sou, mas o espelho reflectia sempre aquela outra forma, um novo aspecto do ser que vivia em mim. Lutei, rebelei-me, neguei aquela imagem irreal.
Enquanto a imagem se propagava saindo do espelho e reflectindo-se nos olhos de todos aqueles que me observavam. E a cada nova imagem plantada nos olhos dos observadores, uma crítica, uma ideia nova, errónea e certeira, ia-se formando a meu respeito. Saberiam eles na realidade quem sou?...
Uma vez que a idéia se formava na mente dos observadores, era a imagem do espelho quem se materializava, era ela, só ela, quem vivia e era considerada por todos.
Sufocada pela imagem, tentei adulterá-la, até tentei destrui-la. Entretanto ela reagiu, transformou-se e reflectiu a sua pior cara. Fiquei doente, sem mesmo me conformar: porque era ela mais poderosa que eu?
E foi a olhar-me no espelho, com o sofrimento refletido, que então compreendi:
era toda a importância que eu lhe dava,
"A forma e o reflexo se observam.
Tu não és o reflexo, mas o reflexo és tu." (…)
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