Quando somos jovens "criamos" para nós uma vida ideal, no entanto, com o passar dos anos a realidade muda. Esta história que aqui trago hoje, e que desconheço o autor toca-me muito particularmente... Eu consegui a tempo reconhecer o ser maravilhoso que foi meu pai! Os últimos anos dele aqui na terra, fiz questão de estar com ele todos os domingos, os natais, revelleions, cortar o cabelo dele, deixar a marquinha de baton na testa dele, sempre que o encontrava... Foi meu jeito de dizer a ele o quanto era feliz de o ter como meu pai! Gosto sempre de contar esta história para os adolescentes para que eles tenham essa mesma oportunidade de "abrir os olhos"!
José Roberto não agradeceu e enquanto abria o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa.
Palavras breves e incisas:
- Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe;
Jose Roberto continuou parado, olhando para o vazio.
Nada!
Com um turbilhão de pensamentos confundido-o, avisou a esposa, tomou o ónibus e se foi, vencendo os silenciosos quilómetros de estrada enquanto a cabeça girava a mil.
de acusações, José Roberto havia feito
as malas e partido prometendo nunca mais botar os pés naquela casa.
Ele havia se desligado da família não pensava no pai e a última coisa na vida que desejava na vida
era ser parecido com ele.
O velório: poucas pessoas.
Quando reviu o filho, as lágrimas correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio.
Depois, ele viu o corpo sereno
envolto por um lençol de rosas vermelho, como as que o pai gostava
de cultivar.
José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia.
Era como estar diante de um desconhecido um estranho, um...
Agora, ele poderia voltar à casa, porque aquele que não o amava, não estava mais lá para dar-lhe
conselhos ácidos nem para
criticá-lo.
Na hora da despedida a mãe colocou-lhe algo pequeno e rectangular na mão
Há mais tempo você poderia ter recebido isto - disse.
Mas, infelizmente só depois que ele se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes...
Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a não no bolso e sentiu o presente.
O foco mortiço da luz do bagageiro, revelou uma pequena caderneta de capa
vermelha.
Abriu-a curioso.
Páginas amareladas.
Quase quatro quilos! O meu primeiro filho, um garoto!
que será a minha continuação na Terra!".
pois as imagens do passado ressurgiram firmes e
atrevidas como se acabassem de acontecer!
"Hoje, meu filho foi para escola.
Está um homenzinho! Quando eu vi ele de uniforme, fiquei
emocionado e desejei-lhe um futuro cheio de sabedoria.
que não pude estudar por ter sido obrigado a ajudar meu pai.
Outra página
Fiz um empréstimo que espero pagar com horas extras".
José Roberto mordeu os lábios.
das brigas feitas para ganhar a
sonhada bicicleta.
Se todos os amigos ricos tinham uma, por que ele também não poderia
ter a sua?
"É duro para um pai castigar um filho
e bem sei que ele poderá me odiar
por isso;
entretanto, devo educá-lo para
seu próprio bem."
"Foi assim que aprendi a ser um
homem honrado e esse é o único modo que sei de ensiná-lo".
José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma bebedeira, tinha ido para a cadeia e naquela noite, se o pai não tivesse aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...
Parecia ouvir sinos, o choro da
cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o cemitério.
cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura, o pai o havia amado.
Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era,
ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores,
o mundo esperava que fosse durão
para que não o julgassem nem fraco e nem covarde.
E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que, debaixo daquela fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.
A última página.
Aquela do dia em que ele havia partido: - "Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto?
Por que sou considerado culpado,
se nada fiz, senão tentar transformá-lo em um homem de bem?"
o pai que ele merecia ter."
Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a ideia de que o pai tinha morrido naquele momento,
José Roberto fechou depressa a caderneta, o peito doía.
Nem viu o ónibus entrar na rodoviária, levantou aflito e saiu quase correndo porque precisava
de ar puro para respirar
Em sua egocêntrica cegueira de adolescente, jamais havia parado para pensar em verdades mais profundas.
tudo era juventude, saúde, beleza,
musica, cor, alegria, despreocupação, vaidade.
Não era ele um semideus?
Agora, porém, o tempo o havia envelhecido, fatigado e também tornado pai aquele falso herói.
Como não havia pensado nisso antes?
a luta pela sobrevivência, a sede
de passar fins de semana longe da cidade grande, a vontade de mergulhar no silêncio sem precisar dialogar com os filhos.
Ele jamais tivera a ideia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha
para anotar uma frase sobre
seus herdeiros, jamais lhe havia passado pela cabeça escrever
que tinha orgulho daqueles
que continuam o seu nome.
Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?
Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de humildade.
o vazio.
Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa, o sol acabava de nascer.
Então, José Roberto acariciou as pétalas e lembrou-se da mãozona do pai podando, adubando e cuidando com amor.
Uma lágrima brotou como o orvalho, e erguendo os olhos para o céu dourado, de repente, sorriu e desabafou-se
numa confissão aliviadora:
"Se Deus me mandasse escolher,
eu juro que não queria ter tido outro pai que não fosse você velho!
Obrigado por tanto amor, e me perdoe por haver sido tão cego."
Nenhum comentário:
Postar um comentário