| Era uma vez uma mulher. Essa mulher era amada. Por ser amanda, era reconhecida como inteira em si mesma. Por ser reconhecida, era livre para existir. Essa mulher vivia com os pés na terra e a cabeça nas nuvens, possuía todos os atributos de uma deusa. Era humana e ao mesmo tempo divina e havia algo de selvagem em seus olhos que nenhuma civilização ou religião poderiam domar. Por isso mesmo,essa mulher foi temida e, por ser temida, foi reprimida e banida do convívio dos demais. Ela foi queimada nas fogueiras da ignorância, amordaçada nas malhas da censura, presa nas correntes da indiferença. Após tantos séculos de repressão, aqueles que a haviam reprezado acreditavam que sua luz havia finalmente se extinguido; que sua natureza selvagem e aterradora havia desaparecido por completo. Porém, essa mulher faz parte da própria natureza, ela é a própria natureza e não pode ser aniquilada. De sua completude temos apenas resquícios mas ela sobrevive nas histórias e nos contos de fada e no fundo da alma de todos, homens e mulheres que sentem um profundo sentimento de vazio e solidão em suas vidas. Eles escutam o chamado que vem dos ossos, das profundezas da carne. O chamado da mulher selvagem, há muito reprimida, há muito massacrada mas de nenhuma forma esquecida. Clarissa Pinkola Estés nesse brilhante livro sai em busca “daquela que sabe”, a mulher selvagem. É um verdadeiro trabalho de escavação das partes mais subterrâneas da psique em busca de algo muito precioso que foi há muito tempo contido. Através de contos de fada e mitos, a autora procura aos poucos revelar as muitas facetas da alma feminina que tem sido tão maltratada não apenas pela sociedade mas pela própria mulher, que se afastou de sua parte selvagem. Mulheres que correm com os lobos é uma verdadeira viagem ao interior daquela parte mais profunda de nós mesmos da qual insistimos em fugir. É uma busca por aquilo que há de mais verdadeiro e mais essencial em cada um de nós. Uma missão de vida que, mais cedo ou mais tarde, todos teremos que cumprir… Sugeriram que lesse mas ainda não achei nem pra me emprestarem nem pra comprar. Estou anciosa! Extraído do belíssino livro de Clarissa Pinkola Estés, Mulheres que correm com os lobos. Introdução Cantando sobre os ossos A fauna silvestre e a mulher selvagem são espécies em risco de extinção. Observamos,ao longo dos séculos,a pilhagem,a redução de espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina.Durante longos períodos ela foi mal gerida,à semelhança da fauna silvestre e das florestas virgens.Há alguns milênios,sempre que lhe viramos as costas,ela é relegada às regiões mais pobres da psique.As terras espirituais da Mulher Selvagem,durante o curso da história,foram saqueadas ou queimadas,com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros. Não é por acaso que as regiões agrestes e ainda intocadas do nosso planeta desaparecem à medida que fenece a compreensão da nossa própria naturesa selvagem mais íntima.Não é tão difícil compreender porque as velhas florestas e as mulheres velhas não são consideradas reservas de grande importância.Não há tanto mistério nisso.Não é coincidência que os lobos e os coiotes, os ursos e as mulheres rebeldes tenham reputações semelhantes.Todos eles compartilham arquétipos institivos que se relacionam entre si,por isso,têm reputação equivocada de serem cruéis,inatamente perigosos,além de vorazes. Minha vida e meu trabalho como analista junguiana e cantadora,contadora de histórias,me ensinaram que a vitalidade esvaída das mulheres pode ser restaurada por meio de extensas excavações "psiquico-arqueológicas",e,através de sua incorporação ao arquétipo da Mulher Selvagem,conseguimos discernir os recursos da natureza mais profunda da mulher.A mulher moderna é um borrão de atividade.Ela sofre pressões no sentido de ser tudo para todos.A velha sabedoria há muito não se manifesta. O título do livro, Mulheres que correm com os lobos,mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem, foi inspirado em meus estudos sobre a biologia de animais selvagens,em especial os lobos.Os estudos de lobos Canis Lupus e Canis rufus são como a história das mulheres, no que diz respeito à sua vivacidade e à sua labuta. |
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sábado, 15 de agosto de 2009
Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estés,
Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum:percepção aguçada,espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção.Os lobos e as mulheres são gregários por natureza,curiosos, dotados de grande resistência e força.São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes,seu parceiro e sua matilha.Têm experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação.Têm uma determinação feroz e uma extrema coragem.
No entanto as duas espécies foram perseguidas e acossadas,sendo-lhes falsamente atribuído o fato de serem trapaceiros e vorazes, excessivamente agressivos e de terem menor valor que os seus detratores.Foram alvo daqueles que preferiam arrasar as matas virgens bem como os arredores selvagens da psique,erradicando o que fosse instintivo,sem deixar que dele restasse nenhum sinal.A atividade predatória contra os lobos e contra as mulheres por parte daqueles que não os compreendem é de uma semelhança surpreendente.
Foi por aí que o conceito do arquétipo da mulher Selvagem primeiro se concretizou para mim:no estudo dos lobos.Estudei também outras criaturas como, por exemplo, os ursos, os elefantes e os pássaros da alma-as borboletas.As características de cada espécie fornacem indicações abundantes do que pode ser conhecido sobre psique instintiva da mulher.(...)
Chamo-a Mulher Selvagem porque essas exatas palavras, mulher e selvagem, criam llamar o tocar a la puerta,a batida dos contos de fadas à porta da psique profunda da mulher.Llamar o tocar a la puerta significa literalmente tocar o instrumento do nome para abrir uma porta.Significa usar palavras para obter a abertura de uma passagem.Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada,ela compreende as palavras selvagem e mulher intuitivamente.(...)
Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente,uma sábia, uma visionária,um oráculo,uma inspiradora, uma instintiva,uma criadora,uma inventora e uma ouvinte que guia,sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos exterior e interior.Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem ,a realidade desse relacionamento transparece nelas.Não importa o que aconteça,essa instrutora,mãe e mentora vagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior.
Portanto,o termo selvagem neste contexto não é usado em seu atual sentido pejorativo de algo fora de controle,mas em seu sentido original,de viver uma vide natiral,uma vide em que a criatura tenha uma integridade inata e limites saudáveis.Essas palavras, mulher e selvagem,fazem com que as mulheres se lembrem de quem são e do que representam.las criam uma imagem para descrever a força que sustenta todas as fêmeas.Elas encarnam uma força sem a qual as mulheres não podem viver.
O arquétipo da mulher selvagem pode ser expresso em outros termos igualmente apropriados.Pode-se chamar essa poderosa natureza psicológica de natureza instintiva,mas a Mulher Selvagem é a força que está por trás dela.(...mesmo a mulher presa com a máxima segurança reserva um lugar para o seu self selvagem,,pois ela intuitivamente sabe que um dia haverá uma saída,uma oportunidade,e ela poderá escapar.).(...)
A mulher selvagem carrega consigo os elementos para a cura;traz tudo o que a mulher precisa ser e saber.Ela carrega histórias e sonhos,palavras e canções,signos e símbolos.Ela é tanto o veículo quanto o destino.
Aproximar-se da natureza instintiva não significa desestruturar-se,mudar tudo da esquerda para a direita,do preto para o branco,passar do oeste para o leste,agir como louca ou descontrolada.Não significa perder as socializações básicas ou tornar-se menos humana.Significa exatamente o oposto.A natureza selvagem possui uma vasta integridade.
Ela implica delimitar territórios,encontrar nossa matilha,ocupar nosso corpo com segurança e orgulho independente dos dons e das limitações desse corpo,falar e agir em defesa própria.estar consciente,alerta,recorrer aos poderes da intuição e do pressentimento inato às mulheres,adequar-se aos próprios ciclos,descobrir aquilo a que pertencemos,despertar com dignidade e manter o máximo de consciência possível.(...)
E então,o que é a Mulher Selvagem?do ponto de vista da psicologia arquetípica,bem como da tradição das contadoras de histórias,ela é a alma feminina.No entanto, ela é mais do que isso.Ela é a origem do feminino.Ela é tudo o que for instintivo,tanto do mundo visível quanto do oculto-ela é a base.Cada um de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para nossa vida."
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Um comentário:
Olha,eu um dia como essa mulher,fui amada por inteira.Fui assim com um olhar selvagem,desbravando o que de mais loba existia em mim.Mas,em alguma fogueira que até hoje não descobri quem acendeu,fui queimada,esmagada,nem cinzas deu para soprar.Hoje sou apenas uma mulher que anda,que não corre mais com lobos,mas uma mulher infinitamente infeliz,pois a saudade que sinto dos meus lobos,são latentes,gritantes em mim.Quem sabe,aliás,em muitos sonhos sonhados eu ainda corro com lobos e são corridas maravilhosas,aonde me desnudo sem medo de ser novamente banida.
Um grande beijo na alma e Parabéns pelo blog.
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