Geralmente nos é ensinado que devemos dar para receber. Como é difícil compreender essa frase e o que ela realmente quer dizer para nós, saímos dando tudo o que estiver ao nosso alcance: amor para não ficar sem amor, dinheiro para ganhar mais dinheiro, cuidar do doente para que na nossa vez também alguém nos cuide, fazemos as vontades dos idosos porque ficaremos idosos e temos medo do fim, e assim por diante. Mas acontece tudo ao contrário do que imaginávamos, a recíproca de pés de barro cai ao chão e temos de fazer nosso próprio chá. As pessoas estão cada vez mais sozinhas e isoladas. No Japão, atualmente, o nascimento de crianças decresceu, as indústrias de brinquedos resolveram explorar um segmento novo de clientes para adquirirem seus produtos: os adultos e idosos. Não porque sentiram compaixão, nem porque seus brinquedos iriam fazer a alegria deles, mas sim porque as vendas lhes dariam bons lucros, e o que vai ser explorado é justamente a solidão. Li uma reportagem hoje na BBC-Brasil sobre isto e fiquei refletindo sobre a necessidade de uma senhora de 60 anos precisar de uma boneca que lhe diz “eu amo você” ou “que bom que você chegou”. O que será que faltou a essa senhora ou o que ela não desenvolveu dentro de si para chegar a uma idade de sabedoria e precisar de uma boneca? Vejo as pessoas fazendo de tudo para não ficarem sozinhas, casam com quem não gostam, namoram trastes que lhe roubam energia, tempo e algumas vezes dinheiro, também. Qualquer pessoa lhes serve de amigo e lhes fazem companhia, pode até mesmo ser pessoa pouco virtuosa com padrão energético baixo e um pouco vampiro. Afinal, o que importa não é a qualidade do encontro e sim não estar sozinho. Outras pessoas colocam suas vidas nas mãos do outro, e geralmente aquele que pega também está querendo colocar a sua vida na do outro. O Resultado é uma catástrofe de solidão a um, a dois, a três ou até com muitas pessoas. Ainda tem aqueles que não conseguem sair do convívio familiar, mesmo caótico, desamoroso, onde um serve-se do outro. É ruim com eles pior sem eles. Esse dito popular é o pior de todos para mim. São situações difíceis, reconheço. Envolve muitos fatores, inclusive as crenças religiosas ou não, e os costumes culturais da onde e da época em que a pessoa vive. Mas, não é impossível sair de tudo isto e fazer um caminho novo, um caminho de crescimento buscando a luz interior. As pessoas investem muito pouco em si mesmas, preferem a ignorância sobre si a confrontar com seus medos e limitações. As prioridades são sempre contrárias ao caminho de crescimento e a lista de desculpas é enorme, algumas até com argumentos lógicos, para acalmar a cabeça das cobranças, não vem do coração. Uns acham dispendioso ou não sabem o que fazer, outros dizem que fulano fez e não deu certo ou precisam estar seguros, e por aí vai. Segurança, como se a vida desse alguma segurança... Podemos morrer, sermos abatidos por catástrofes ou experimentarmos enorme felicidade a qualquer momento, não sabemos quando essas coisas chegarão até nós. Medo e necessidade de segurança impedem uma reação para que se busquem caminhos alternativos para maior qualidade de vida, com prazer, amor e trabalho, gratificantes. O medo de encarar a si mesmo é muito grande, o Minotauro interior, aquele monstro a ser vencido, é sempre visto maior que a gente. O mais fácil é deixar a vida passar e ficarmos quietinhos para que nada se mexa ou saia do lugar onde pusemos. Quando abrimos os olhos à vida passou os 60 anos chegaram e temos de comprar uma boneca para não nos sentirmos sozinhos e abandonados. Ser feliz consigo mesmo é um aprendizado que começa por conhecer nossas limitações, ir se desvencilhando delas e alcançando gradativamente o patamar superior de desenvolvimento humano. Não há como queimar etapas ou uma poção mágica a tomar para que aconteça mais rápido, a gente tem o tempo da gente, para uns demora mais para outros menos, mas todos podem chegar a serem seus próprios nutridores. Desenvolver uma habilidade da qual gostamos também é essencial, desde que seja para nós mesmos, informática, escrever, jardinagem, artes plásticas, música, seja ela qual for tem que ser com muita paixão e garra. Quando nos construímos e desenvolvemos uma habilidade não há dia sem o que fazer, monótono ou sem o que curtir, sempre haverá coisas novas a serem saboreadas e alcançadas. Nessa caminhada se pessoas aparecerem para compartilhar um momento ou muitos momentos de intensa alegria e felicidade será um presente da Existência, a ser experienciado sem apego ou posse. Se não aparecerem ou até aparecerem estaremos prontos para brincar conosco mesmo em solitude e sem sofrimento. |
Um comentário:
Oi Guidha!
Texto ótimo heim!
Dei uma copiadinha básica para uma futura postagem lá em casa. Mas quando eu for fazer vou te avisar e colocar os devidos créditos viu.
Bjs e uma ótima semana para vc.
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