Paulo tinha fama de mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira
no campo dois dragões-da-independência
cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo,
mas na semana seguinte ele veio contando
que caíra no pátio da escola um pedaço de lua,
todo cheio de buraquinhos, feito queijo,
e ele provou e tinha gosto de queijo.
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa
como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando
que todas as borboletas chda terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia
e queriam formar um tapete voador
para transportá-lo ao sétimo céu,
a mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer.
Este menino é mesmo um caso de poesia.
Carlos Drummond de Andrade, Contos Plausíveis
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